Paixão que virou livro! A história do italiano 'louco' por Sócrates e pela Democracia Corinthiana
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Por Lucas Faraldo
Não é de se estranhar que um amante de futebol se apaixone pela história do Corinthians e, mais precisamente, pela Democracia Corinthiana e por Sócrates. Certamente, boa parte da Fiel se tornou torcedora do Timão justamente assim. O que causa espanto – no melhor sentido da palavra – é descobrir alguém que, mesmo a 10 mil quilômetros de distância do Parque São Jorge, encaixa-se perfeitamente em tal perfil.
Essa é a história de Riccardo Lorenzetti. Natural de Toscana, região centro-oeste da Itália, ele tem 50 anos, acumula experiência profissional na área do jornalismo e do teatro e é autor de um livro chamado La libertà è un colpo di tacco (A liberdade é um toque de calcanhar, em tradução livre), dedicado ao Corinthians do início da década de 80.
Como o próprio Riccardo faz questão de esclarecer, seu livro não tem pretensão de ser uma biografia sobre um período da história do Corinthians. Trata-se de um romance que mistura traços de realidade – resultados de jogos do Timão, por exemplo – com ficção – o apoio à Democracia Corinthiana por jornalistas de um periódico brasileiro fictício chamado O Pintassilgo em meio à perseguição sofrida pela imprensa durante a Ditadura Militar.
"O resultado foi absolutamente irresistível, pelo menos para mim. Longos diálogos entre Sócrates, Wladimir e Casagrande e demais personagens criados por mim têm um efeito muito engraçado", conta Riccardo, em entrevista concedida ao Meu Timão.
O livro de Riccardo teve sua primeira edição lançada em 2014. Nos primeiros meses de 2017, o autor se dedicou a palestras de divulgação do romance em diversos locais da Itália.
Motivação
A ideia de escrever um romance com a Democracia Corinthiana como pano de fundo surgiu justamente em meio à paixão de Riccardo pela história revolucionária que se desenvolveu no início da década de 80 nos vestiários e bastidores do Corinthians. A possibilidade de o futebol ser utilizado como instrumento de combate à repressão de um regime ditatorial "é absolutamente fantástica", na opinião do "ítalo-corinthiano" em questão.
"É uma história muito bonita. Bonita e muito romântica. Uma história tipicamente sul-americana, no mais charmoso sentido. Estamos acostumados a associar futebol e esportes em geral a resultados e campeonatos. Personagens da história como Jesse Owens, que peitou Hitler na Olimpíada de 1936, ou o boxeador Muhammad Ali mostram que é possível ser esportista e protagonista de algo ainda mais importante", argumenta. "A Democracia Corinthiana faz parte desse rol, ela fala com o coração das pessoas."
A Democracia Corinthiana chegou ao conhecimento de Riccardo graças à transferência de Sócrates do Corinthians à Fiorentina, em 1984. Durante o bate-papo com a reportagem do Meu Timão, ficou evidente o desapontamento do autor do livro diante da banalidade com a qual os torcedores italianos tratavam o então meia da Seleção Brasileira durante o período em que defendeu as cores do clube toscano.
"Apesar de o começo de Sócrates na Fiorentina ter sido muito positivo, a Itália de forma geral não mostrou muita simpatia por Sócrates. Ele era considerado um personagem muito estranho e, acima de tudo, fora do contexto", lamenta Riccardo.
Paixão pelo Timão
Mesmo sem nunca ter passado nem mesmo perto de Itaquera ou do Parque São Jorge, Riccardo se tornou "um louco do bando". Seja pelo conhecimento prévio a respeito da história do Corinthians e os ídolos que pelo clube passaram ou pela pesquisa que fez para escrever seu livro, o italiano entendeu a dimensão do Timão no cenário do futebol brasileiro.
"Eu rapidamente percebi que o Timão não é apenas um clube esportivo. É uma espécie de tribo, uma nação com uma população orgulhosa. Eu acho que seus torcedores interpretam a filosofia e o jeito de viver corinthianos. E isso eu acho único e irresistível", sintetiza.